As aventuras do ex-ministro da educação, as mentiras do outro ex-ministro da educação, as brigas do Ministério Público e F.B. ganhando um refresco da justiça. Tudo isso e muito mais no resumo da semana #78 do governo Bolsonaro.
Não se esquece de compartilhar esse texto com o papai, a mamãe e a titia.
The following takes place between jun-23 and jun-29
O novo ex-ministro da Educação
Weintraub foi para outro país mas ainda causa dores de cabeça para o governo Bolsonaro e todos os brasileiros. Ao longo da semana, a data da sua exoneração foi modificada. Sem a necessidade de passaporte diplomático para ser utilizado em outro país, a sua demissão foi retificada para a sexta-feira (19).
Membros do Tribunal de Contas da União veem a possibilidade de fraude nessa história. O blog considera que houve, no mínimo, safadeza dos envolvidos.
Seis parlamentares enviaram um pedido à Embaixada dos EUA no Brasil para que eles expliquem como o ex-ministro entrou no país. Há sempre a preocupação de que ele tenha saído para escapar da mão pesada de um juiz de primeira instância. O Nexo explicou o que pode acontecer com Weintraub se for o caso.
Uma certeza, porém, é que Rodrigo Maia continuará com uma língua muito afiada.
O futuro ex-ministro da Educação
Para o lugar de Weintraub foi selecionado Carlos Alberto Decotelli. Oficial da reserva da Marinha, ele foi visto com uma escolha técnica e moderada. Bem diferente dos últimos ocupantes do cargo.
Evangélico, disse que era doutor por uma universidade na Argentina e pós-doutor em outra instituição. Também teria concluído mestrado na FGV sem realizar plágio no processo.
A FGV informou que há suspeitas de que a sua dissertação teve plágios. A Universidade Nacional de Rosário informou que ele não defendeu a sua tese de doutorado. A Universidade de Wuppertal, afirmou que ele não fez pós-doc lá.
Enquanto o blog editava este post, o presidente começou a procura por outro nome para o cargo. Sua passagem no ministério, felizmente, será menor do que o tempo gasto para listar as mentiras do seu currículo. Deus tenha piedade desta nação.
Vá sem Deus
Se tudo der certo, o troca-troca de cadeiras do Ministério da Educação se expandirá para outros lugares. Há pressão para substituir o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (aquele, que está queimando as pontes construídas com o grande capital internacional utilizando as madeiras cortadas na Amazônia como carvão). Também há quem queira tirar o 4chanceller, Ernesto Araújo.
O motivo, naturalmente, é pragmatismo. Ernesto Araújo gasta mais tempo divulgando conspiração sem sentido nos organismos internacionais do que melhorando a imagem do país. Já Salles está próximo a tirar gente que cuida de US$ 3,7 trilhões do país. E há quem diga que é a esquerda que está destruindo o país.
Briga de concurseiro
O Ministério Público e a Procuradoria-Geral da República andam com todo tipo de rusga interna nos últimos dias. Na Corregedoria do MPF, uma sindicância foi aberta para entender se a subprocuradora-geral Lindora Araújo estava metida em ações ilegais dentro da Lava Jato (saudades, querida). A tentativa de obter dados sigilosos levou a um pedido de demissão coletiva de procuradores da Lava Jato na PGR.
Não é a primeira vez que a PGR, a subprocuradora-geral e a Lava Jato entram em conflito. Em abril, Lindora pressionou a força-tarefa carioca para desbloquear uma conta de Jacob Barata. Enquanto isso, em Brasília, a mesma PGR tenta retomar conversas para que o advogado Rodrigo Tacla possa delatar Sergio Moro.
E o Sergio Moro? Anda escrevendo para a Crusoé.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
- A investigação do assassinato de Marielle Franco mostra que há pelo menos quatro vereadores no Rio de Janeiro ligados à milícia carioca.
- A Câmara aprovou o texto-base de um projeto de lei que facilita a vida de motorista ruim.
- O Banco Central mandou o Whatsapp ter calma na hora de inovar.
- O governo quer prorrogar o pagamento do auxílio emergencial por mais três parcelas da pior forma possível (para a sua popularidade e para quem recebe o auxílio): com pagamentos decrescentes.
- Jair Bolsonaro ainda é apoiado por gente demais para cair por um impeachment.
- O BC também quer incentivar o crédito a micro, pequenas e médias empresas no Brasil e reduzir as dificuldades que elas enfrentam hoje em dia.
- O STF mandou avisar que a Lei de Responsabilidade Fiscal não vale mais tanto assim : agora não pode cortar salário de funcionário público e reduzir repasse para os poderes Legislativos e Judiciários.
- O ministro Luiz Eduardo Ramos, da secretaria de Governo, foi pra reserva.
- O TCU avisou que 620 mil pessoas pediram e receberam o auxílio emergencial de forma fraudulenta.
- 75% dos brasileiros gostam mais da democracia do que de outras alternativas, o maior índice em 30 anos. O blog comemora e torce para que o número de pessoas que apoiam as medidas de isolamento também continue sendo a maioria.
Medium quality bait
A Política Federal quer ouvir o presidente no inquérito que apura se houve interferência no órgão. O ofício foi enviado para o STF e, até a última verificada do blog, está sob análise.
Quando o presidente é ouvido como vítima ou testemunha, ele pode depor por escrito. Segundo o ministro Celso de Mello, porém, isso não vale para o caso de Jair, que é acusado. Aguardamos com carinho Bolsonaro falando no free style.
Por que isso é importante? Além do vídeo que coloca Bolsonaro em uma situação bem delicada, a sua fala pode prejudicar gente importante do governo. Isso vale especialmente para a vivandeira e ministro Augusto Heleno, que passou pano para Bolsonaro quando prestou o seu depoimento mesmo que tenha feito coisas que possam prejudicar a defesa do chefe do Executivo.
Saneamento é básico
Todo mundo sabe que saneamento é básico. Mas no Brasil, ele não é uma realidade para metade da população. Na última semana, porém, mudanças regulatórias foram aprovadas para talvez, quem sabe, mudar esse cenário.
O Senado aprovou o novo marco legal para as políticas da área. Ele permite que empresas privadas prestem serviços e facilita a privatização das estatais do setor. Mas não obriga ninguém, literalmente, ninguém, a fazer isso (mas se for viável, é legal fazer).
O objetivo do novo marco é garantir que mais de 90% da população nacional tenha acesso a coleta de esgoto e tratamento de água potável até 2033. Se tudo der muito certo, há ainda a possibilidade de R$ 700 bilhões serem feitos em investimentos e de que 700 mil empregos sejam gerados nos próximos 14 anos. Mas depende do esforço de governos, órgãos de fiscalização e bons gestores públicos e privados para que isso seja feito.
O blog acha difícil que isso ocorra, mas há muita gente querendo colocar as suas cartas nessa mesa. Como não há desenvolvimento em um país com esgoto a céu aberto, o blog espera estar errado.
Quando o Natal chega mais cedo
Já dizia a música, quem acredita sempre alcança. E Flávio B. alcançou o seu foro privilegiado no caso das rachadinhas. A decisão foi dada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que considerou o cargo ocupado pelo atual senador como desculpa para tirar o caso da primeira instância.
O juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da primeira instância, foi o responsável por quebrar o sigilo bancário do senador e mandar prender Fabrício Queiroz. O caso saiu do seu gabinete, mas as decisões seguem válidas.
A decisão causou estranheza no STF. Para o supremo, o direito ao foro termina com o fim do mandato. Se o Ministério Público recorrer (e manter a sua imagem intacta nessa história), caberá à suprema corte a decisão sobre o tema.
Falando no Ministério Público, o órgão deve denunciar o senador F. Bolsonaro nos próximos dias. Flávio entrará em uma lista com outro político, também acusado de executar o mesmo esquema. O outro nome, porém, não é filho do presidente da República.
Curiosidades: se Sergio Moro tivesse seguido as ideias do TJ-RJ, Lula não seria julgado em Curitiba.
Pau que nasce torto, na marra se endireita
Quem gosta de democracia não deve ficar feliz apenas com o resultado do Datafolha. A justiça e o cenário externo está moldando Bolsonaro na base do medo e da grana. E, por hora, está dando certo.
Até segunda ordem, só uma minoria bastante barulhenta quer ver a nossa democracia ruir. 15% da população, para ser mais exato. Talvez será preciso mais do que um soldado e um cabo para fechar o STF.
Bolsonaro não anda tendo dias bons. A maioria dos mais ricos já reprova o seu governo. Os mais pobres que apoiam, em geral, fazem isso apenas pelo auxílio emergencial.
No exterior, há grupos de investimento loucos para ver ministros caírem. E se já não bastasse o presidente argentino, Bolsonaro também corre o risco de ver um velho branco democrata morando na Casa Branca ano que vem. Até mesmo os militares pararam de sonhar com a volta dos anos de chumbo.
Sai feliz o Centrão, fica triste o olavismo cultural e sai feliz, como sempre, o blog. Ver reacionário enfraquecido é melhor do que uma barra de goiabada cascão.
E agora para algo completamente diferente
Se estivéssemos em pandemia há mais tempo, Queiroz seria um ótimo exemplo do que não se fazer. O ex-assessor do filho do presidente recebeu a sua mulher várias vezes enquanto morava na casa de Frederick Wassef. Diz uma advogada que ele passou a morar lá em maio de 2019.
Antes de mudar o CEP para Atibaia, Queiroz também morou em outro apartamento de Wassef. Nesse caso, em um imóvel em frente à uma praia localizada em Guarujá, no litoral paulista.
A julgar pelo poder da fábrica de notinhas na imprensa e pequenos recados para amigos de bandidos, é melhor Bolsonaro (qualquer um deles) seguir o conselho de seus amigos e buscar um bom advogado. Ou advogada. O blog não liga para essas coisas.
Todos os posts da série estão disponíveis aqui.
Escrito pelo Guilherme e revisado com a ajuda da Ninna. Qualquer erro pode ser apontado diretamente no meu Twitter ou até mesmo no meu Curious Cat.